Eduardo Galeano comparava a utopia como uma eterna linha no horizonte de estrada que nunca chegaremos. Agostinho também dizia que era no ser e no reencontra-se de ser que todo o homem buscava Deus.
A vida é inteiramente dialética, suponho.
Ontem estava mal.
Hoje ao avistar amigos senti-me enervado de utopias. Talvez, seja só isso mesmo. Como dizia a filosofia de Nietzsche o bom é sempre ser menos conceitual e mais trágico, ou dito de outro modo, menos lógico, mais artístico, totalmente livre e pulsionado sempre de jubilosas utopias.
"I walked the avenue, 'til my legs felt like stone,
I heard the voices of friends, vanished and gone,
At night I could hear the blood in my veins,
It was just as black and whispering as the rain" - Bruce springsteen
O que me mantém vivo é a palavra. Sei que quando silenciar-me tudo estará acabado. Ao caminhar entre a chuva percebo o nada úmido e imóvel que corre dentro de mim. Sou apenas alguém de sombra que passa com dores que não podem ser ouvidas. Vi uma moradora de rua com mãos enrugadas cobrindo o rosto de choro hoje. Queria ter a capacidade de pintar essa cena. É a mais pura subjetividade da agonia perante o real.
Hoje, Deus escondeu-se.
No começo desse ano li o livro "correr" do Dr. Drauzio Varella. Sempre gostei da escrita dele. Simples e direta. Gosto de autores que não enfeitam o texto. Aliás essa frase tenho "horror a enfeite no texto" e da própria poetisa Adélia Prado a qual também admiro muito. Mas voltando a falar do livro do Drauzio, ele foi um motivador para que eu pudesse experimentar a prática da corrida.
Nunca fui extremamente sedentário. Pratiquei diversas modalidades de artes marciais ao longo da adolescência. Mas com relação a corrida eu era um neófito há sete meses atrás. Decidi que precisaria fazer treinamentos de força e mudar a alimentação para correr mais rápido. Fui à nutricionista e contratei uma personal trainer para o trabalho de musculação.
Não me arrependo. Acredito em dois grandes investimentos na vida: saúde e educação. Hoje corri 30km após sete meses de treino. Uma distância longa e considerável. Minha meta é chegar como Drauzio aos 70 correndo maratonas de 42 km.
Aliás corrida é algo que vicia. Pois a descarga de dopamina e serotonina no encéfalo após esses treinos é alta, como ele explica em seu livro. Com parcimônia sei que chegarei a minha meta.
A corrida também me dá ânimo e energia para realizar atividades intelectuais das quais eu vivo.